Lá No Fim Do Mundo
Este hiato de tempo que parece não existir, embora existindo, do Natal ao Ano Novo, pro(e)voca a consciência das boçalidades do mundo deixando acontecer, como acontece, mais essa guerrinha de famélicos aidéticos, Etiópia x Somália, cristãos x muçulmanos, escravos americanos x escravos terroristas. Um jogo de nada contra nada envolvendo 90 milhões de miseráveis. Os que se salvarem da tragédia da guerra morrerão de inanição ou de Aids, todos com menos de 50 anos, que a vida é curta por lá. É como se cumprem os interesses do mundo ocidental que desconhece a África, reserva mal preservada para o momento da conveniente exploração. Sim, talvez pouco importe a nós o Chifre da África, suas girafas, rinocerontes, hipopótamos. E negros. Mas eles estão lá.
Continuaremos a não saber que a Etiópia, que já foi Abissínia, vem do início do mundo, já foi palco para outras aventuras guerreiras, italianas e inglesas, uma história enfim reposta, quem sabe por susto, pelo imperador Halié Selassié, antes Ras Tafari (daí essa mania do cabelo rastafari que os jamaicanos souberam bem exportar), depois Leão de Judá – um descendente supostamente direto de Salomão feito por esse em noites de loucuras com a Rainha de Sabá -, Rei dos Reis, Niguse Negest ou apenas Négus (embora os títulos, não se pode chama-lo de um sujeito exemplar). Sim, há pompa por lá, maior do que a imaginada. Com sangue real da Casa de Davi, dizem.
A Etiópia me lembra um português, jornalista, Joaquim Rodrigues Matias, que trabalhou comigo. Ele foi o primeiro a entrevistar Hailé Selassié, já Imperador, em seu palácio real em meio aos leões, eunucos e uma atenta guarda pessoal. Tudo falado em aramaico, como era de Selassié, contando um passado romântico que nossa nada santa ignorância nos esconde. Ou um presente que pouco promete a essa triste África. Ora, ela está nos confins da terra!
Cadê a Defesa Aérea?
A mentirada oficial sobre o apagão aéreo, além do fato de que nunca antes na história do país houve tanta incompetência, burrice e desrespeito ao Cidadão, faz intuir que inexiste defesa do espaço aéreo brasileiro. Esta seria uma tarefa do tal sistema de Cindactas (1, 2, 3, 4), idealizadosegundo um conceito estratégico que deveria controlar, para valer, nosso espaço aéreo. Mas, como já foi demonstrado, ele é permeado de buracos negros, um queijo suíço dos céus, com operadores mal dormidos e equipamentos sucateados. Por isso contrabandistas e traficantes constroem pistas clandestinas pelo nosso interior e voam livres sobre grande parte do território. Se numa diarréia de coragem, Bolívia, Equador ou Paraguai inventasse de largar seus paulistinhas num ataque aéreo ao Brasil, nós só saberíamos disso no dia seguinte, supondo a inexistência de outras muitas mentiras... Voltando no tempo, lembro do porta-aviões Minas Gerais, sobra deteriorada de guerra enfim aposentada. Nosso litoral também está ao abandono.
Lá por 82, quando começaram a por em funcionamento os Cindacta, tive que visitar a unidade de Curitiba para acertar algumas fotos que iriam ser usadas em material publicitário. Tudo era mistério, exigiam-se necessárias autorizações de mil e um brigadeiros de plantão. Segredo de Estado, o Cindacta era guardado longe de todos os olhos. Vinte anos depois o sistema se apresenta na sua realidade: decadente, superado, ineficiente. Uma balela. O Contribuinte que se lixe, de todos os modos.