domingo, março 30, 2008

Reabrindo e rememorando

Depois de uma hibernada, decido pela reabertura da Destilaria, A data não ajuda, evoca um caminhão de memórias. De companheiros, dias de tensões represadas, expectativas que não se realizariam, muitas talvez não acontecessem mesmo.
A Nação começava a viver a mentira que seria institucionalizada logo em seguida, no 1º de Abril, e por mais duas décadas. Com ela os sonhos sendo jogados bem mais lá para a frente, ainda que por dois ou três dias tenham sobrevivido, até que Meneghetti retornasse de Passo Fundo e reassumisse o Palácio Piratiní. E puro ódio tomasse mentes e corações, como aconteceu quando Prates Dias, o Chefe de Polícia, desencadeou sua perseguição particular a jornalistas, políticos, estudantes, antecipando no RGS o que seriam os anos de chumbo. Recordo de nomes e rostos vítimas de muitas infâmias

Dois dias e meio sem dormir, cai na cama e acordei 12 horas mais tarde. Arrumei-me sobressaltado e desci para o jornal, deviam ser três da tarde, não imaginava o que acontecera. Fiz meu caminho habitual, desci as escadarias do Viaduto e segui pela Avenida Borges de Medeiros para tomar a Rua da Praia. Encontrava brigadianos, cavalarianos em patrulha e pouca gente, assustada, o medo se evidenciava .Não sei bem que dia era esse, imagino que 5 ou 6 do mês. Na esquina da Rua Caldas Jr. com a Sete de Setembro vi o jornal, Última Hora, cercado pela polícia, DOPS, agentes do Exército. A custo consegui acesso à redação. Encontrei o clima de ambiente invadido, notícias imprecisas, alguns poucos companheiros tentando se organizar, saber de outros colegas nossos e definir o que poderia ser feito dali em diante. A Polícia procurava por alguns da equipe, começara a vendetta particular do Chefe de Polícia (morreu como viveu, amargurado e cachaceiro).

Conhecíamos os primeiros momentos da era de chumbo, difíceis e complicados para acompanhar os fatos, participar da história, fazer rodar o jornal, mesmo que censurado, defender colegas e amigos. Proteger-se.

A vida passou a ser outra. E os sonhos? Bem, esses ficaram para o futuro possível.