sexta-feira, abril 25, 2008

O dia em que a terra tremeu

Esse dia em que a terra tremeu... acho que foi só mais um dia em que a terra tremeu. Eu não estava num 30º andar qualquer de qualquer av. Paulista, nem senti mas descobri (de novo) que aquele Paraíso de que me falaram lá nos tempos de infância morreu com ela, a infância. Dizia-se (perdão, Lula), que nunca antes na história desse país a terra havido tremido, e não houveram, até então, terremotos, tufões, tsunamis, eis uma terra abençoada por Deus, como no samba do Jorge Ben (ou Benjor? ou como se chama mesmo agora?). Mãe gentil essa natureza poética (não imaginava o que faríamos dela) cantada em verso e prosa que agora acirra meu irônico desconfiômetro de que por aqui a terra treme quase que todos os dias, como tremeu forte nas manchetes da mídia, na semana, lembrando da fome de hoje e daquela possível, amanhã, a nossa e de muitos outros:
  • Sem trigo argentino, pão fica mais caro
  • Alimentos respondem por metade da inflação em abril
  • Governo brasileiro suspende exportação de arroz para evitar desabastecimento
  • País aceita ceder em acordo de Doha
  • Alta nos preços dos alimentos já é crise global, diz a ONU
  • Desmatar é remédio para crise da comida (Governador de MT)
  • Rede do Wal-Mart limita venda de arroz nos EUA
  • Décadas de decisões ruins geraram crise dos alimentos, diz FAO
  • Falta de alimentos ameaça cem milhões de pessoas
  • Para FMI, Rodada Doha ajudará na luta contra a alta dos alimentos
  • Cresce preocupação nos países ricos com revoltas motivadas pela fome
  • Agrotóxico contamina 40% dos alfaces, tomates e morangos,diz Anvisa




NÃO É A FOME QUE MATA
É O TEMPO DA FOME QUE NOS VAI MATANDO
É O SILÊNCIO NA DESCULPA, DOS OUTROS
É A PELE DISTANTE, DOS OUTROS
A OUTRA VIDA QUE NÃO NOS PERTENCE

NÃO É A FOME QUE (NOS) MATA
À DISTÂNCIA DO SOFRIMENTO, DOS OUTROS
SÃO OS OUTROS, AQUELES QUE CARREGAM A FOME
A NECESSIDADE, DOS OUTROS
AQUELES QUE SÃO, OS OUTROS COM FOME
PEDINDO
OUTROS
OUTRO
OUTR
OUT
OU, OS (OUTROS)
(AQUILO DA FOME…)

(Desenho de José Pádua e texto de Eduardo Nascimento
Cículo Artístico e Cultural Artur Bual - Portugal)

Ah! Breve lembrete sobre outros tremores: o prazo do Imposto de Renda vence dia 30, quarta-feira. A hora de aplacar a fome do Leão.
Fui.