quinta-feira, novembro 16, 2006

Rua 24 Horas Ou O Beco Sem Saída

No começo, ônibus despejavam gente de todos os lugares, máquinas fotográficas documentavam a descoberta. O povo da terra também ia. Até a chuva, e chovia mais dentro do que fora, aceitava-se numa boa - "um dia a Dona Prefa conserta, é próprio de obra inovadora e ousada", eis a desculpa gentil imaginada para as falhas de um projeto que colocava a cidade na modernidade. Cosmética.

Por dever de cidadania me peguei "ene" vezes proclamando as virtudes da idéia, enquanto bebericava café contabilizando mentalmente seus problemas. Por dever de vizinhança, assisti quieto a decadência - o fuminho passando de mão em mão, as “mães” fazendo ponto, assaltos, porres, a chuva continuando a molhar mais dentro do que fora. Nessa época, a Rua tinha um (bom) administrador, o José Luiz, morreu enfartado ali pelos 40, quem sabe exaurido pela briga que sustentava sozinho.

Passava por lá, ia um café, momento de ver gente daqui e de fora. Trocavam-se papos, lia-se jornal, esboçavam-se novos e civilizados costumes. Cheguei a fazer uma ceia de Ano Novo no que era, então, o melhor restaurante da Rua. Apesar da chuva, e choveu naquele 31.

A loja de conveniência quebrou, depois a farmácia, aí outras. Brotaram os garçons mais chatos da cidade.
O antigo reivindicava o que achava seu e, sorrateiro, assumia o controle da situação. Quebravam-se os encantos e o imaginário.

A Rua encolheu, hoje soma umas 10 lojas assim-assim, “guentando” porque não tem para onde ir e os aluguéis atrasados não são cobrados. Virou beco sem saída.

Um incêndio, sábado (um dia depois que a URBS fez reunião com os lojistas), 11, provocado pelo sabotador Kurt Circuit, como descobriu um cafezeiro, desvestiu um trecho da ex-24 Horas (há muito não funciona as 24 horas). Seguindo a moda, ergueu-se um tapume, feito muro, espremendo a Rua, sugerindo dois mundos, o de anteontem e o de ontem. Piorou. Culpa do aleatório, entende-se

Ainda bem que desde sábado só caiu leve garoa.

Imagino que os problemas da Rua 24 Horas começam por ela não ter dono: é da Prefeitura, mas a URBS a deixa prá lá;
imagino que deveria ser da Secretaria de Turismo, mas essa não vai querer o pepino, pouco importa se a Rua foi cartão de visita de Curitiba. Dos prefeitos, o Greca chegava a aparecer; vereadores aparentam ignorá-la (nada surpreendente, e a 24 Horas não rende votos...). Amarrada aos preceitos de administração pública, a Rua perdeu o mal definido foco inicial. Encarece ser repensada (será resgatável?) mercadologicamente, como um shopping de conveniências (não de comida ruim, de serviços efetivos), funcionando 24 horas.

Tio Nica paga o café. Nono, Jorge, Cunha, Miguel, eu junto, outros que chegam e vão, o Marcial, vira e mexe todos falando nessa melancólica decadência. Em silêncio, Padre Zeno mudou de freguesia para o almoço de domingo.

Da minha parte, mudei de café, o dali deixei para raros momentos com esses amigos. E vou tentando imaginar se depois desse desastre serão feitos além de remendos... Os poucos lojistas acreditam em “enérgicas providências imediatas”. Acreditam porque precisam.

O tempo está firme, não há previsão de chuva. Graças a Deus!

(Foto de Joel Rocha)

quarta-feira, novembro 15, 2006

De coisas republicanas e não republicanas


Um profeta o barbudo Deodoro, o Fundador da República. Escreveu, talvez, o segundo artigo – o primeiro, eu suponho tenha sido do Caminha com o seu "em se plantando tudo dá" - da Lei das Impossibilidades Tupiniquins para desespero dos positivistas: “República no Brasil é coisa impossível porque será umaverdadeira desgraça. Os brasileiros estão e estarão muito mal-educados para republicanos” (um resumo do "o que começa errado termina errado?"). Isto ele disse bem antes de, com seus 600 soldados e uma banda de música (tinha, não havia festa sem uma), despachar a família imperial para a Europa. Sua carta ajuda a entender, ainda, a mania fundada pelo Bob (Jefferson) de termos “assuntos republicanos" e "assuntos não republicanos”.

Sem dúvida é uma boa data o 15 de Novembro para se meditar sobre o que é ou não é republicano. Complicado é definir o que seja republicano. Tentei fazer uma lista, fiquei às voltas só com assuntos não-republicanos, um puxando o outro, eu naquela de me dizer o que não é um cavalo. No espírito comteano, mortos guiando vivos: “a humanidade se compõe mais de mortos que de vivos”.

Deodoro escreveu e não leu, seguiu a corrente e
fundou a República, do jeito que deu. Aliás cuidando logo de definir temas não-republicanos: um mês depois
de proclamá-la tratou de editar a Lei Rolha, a primeira
censura à imprensa nacional. Nem hino a República tinha... Objetivo da lei: julgar “abusos da manifestação do pensamento”. Fez-se o conceito para os futuros. Coça de inveja a mão de quem segura a caneta do Poder - federal, estadual, municipal.

Não conhecemos uma república teocrática ao sabor
positivista, mas em nome de Deus, Pátria e Família
sofremos revoluções, a última morreu meio de inanição e também no berço esplêndido de assuntos não-republicanos... Como de tudo fica um pouco, lembrando de Drummond, levamos um traço autoritarista, próprio ao positivismo dos seguidores de Isidore Auguste Marie François Xavier Comte, como Júlio de Castilhos, Getúlio e, óbvio, a caserna. E nos recônditos profundos da alma do Operário que Virou Patrão, no jeito destrambelhado de algum governador, na língua solta dos que defendem uma ditadura como salvação nacional (o voto corrompe a razão popular, é do espírito comteano). Barbaridade!

Tudo assim tão pouco republicano, meio cantando baixinho

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

(Refrão do Hino à Proclamação da República, mal o conhecemos, por sinal tem uma letra calhordinha demais para o meu gosto!)

Ganhamos uma bandeira, dia 19 é dela, expondo nossas riquezas, delícias e encerrando o postulado máximo do positivismo: Ordem e Progresso (ou seria "Ordem no Congresso"?). Seguimos, aprendendo a conviver com nossas contradições, estruturas sócio-econômicas herdadas do império, riqueza nacional concentrada, pensamento elitista (somente os indivíduos dotados de grande cultura geral e de grande discernimento científico e objetividade é que podem governar bem uma nação, uma proposta de Comte), sistema agrícola de feição monoculturista, exportador, latifundiário, sujeito às diatribes dos MSTs da vida. Às vezes trocamos os plantonistas no governo, tudo o resto fica como está. Nós idem, daqui a quatro anos repetindo as mesmas façanhas. Melhor é um chope gelado (vou por no cardápio da Distilaria).




Hoje os templos positivistas devem festejar essa república incompleta e incipiente, Comte se revirando no túmulo diante do que sobrou do legado (informo que não sou dessa paróquia e a foto é do templo de Porto Alegre, lembrança de infância; o de Curitiba consta que fica em alguma galeria do centro). Faz companhia a Platão, esse o maior enganado da história, nunca imaginou no que daria o seu sonho republicano por esta terrinha.

Curtamos o feriado sabendo que faltam 40 dias para o Natal.

Saúde e fraternidade.







terça-feira, novembro 14, 2006

Respeito é bom e é bonito!

Já ouvi isso um monte e nunca pensei em repetir, parece frase antiga. Mas no meio de tanta bandalheira solta, e muito mais de imprevidênca, a frase me veio à cabeça e eu cometo essa de publicá-la. Mas ela veste bem o momento, nada novo, apenas um arremedo mal desenhado de muitos outros, mas um momento grave, outro.Começou logo após o acidente do vôo 1097, quando pareceu que pouco contou a todos os envolvidos nos fatos,do acidente em si, das razões, das buscas, se havia gente no meio da história, não parecia que havia. E continuou com mentiras e desmentidos, uma série de "eu não sabia" que agora culminam numa nova reunião inconclusa. É Brasília, gente, é Brasília!.



Tenho uma certeza: são dois brasis mesmo, o deles, o de Brasília, é o nosso. É a Ilha da Fantasia e a realidade que deve trabalhar quase 4 meses ao ano para suprir seus empregados lá... em Brasília. Eles esquecem, em Brasília, que são "servidores públicos" ou "serventuários", como queiram.Há um país real e um país imaginário, este é o deles. Lembro de uma peça do Arena, não sei se "Arena Canta Zumbi", acho que não, em que lá pelas tantas é dito: "...o Brasil é uma terra alcatifada de flores, onde a brisa faz amores... correi prás bandas do sul e encontrareis um país adormecido...", ao que o coro responde: "subdesenvolvida, subdesenvolvida, esta é que é a vida nacional!". Quer se queira, quer não, de fato somos subdesenvolvidos brincando com coisa séria. Nada além, quem sabe, de uma metáfora lulliana, meirellenta ou outros sábios, passados e presentes - nos livre Deus dos futuros!

Seguimos adormecidos, é bom para os de plantão em Brasília. Enquanto isso, aprendamos a olhar o que rola ao nosso redor (ou derredor?).

O outro País, o nosso, o Verdadeiro,inexiste para "elles", logo não conta. A nós são dados direitos, a começar por aquele de que "todos são iguais perante a lei", o problema é como exercitar isso e os demais. Falta respeito com quem paga a conta.

Alguém deve estar morrendo na fila do INSS. Por falta de respeito, só.

quinta-feira, novembro 09, 2006

ESSE É O NÚMERO DO PROJETO DE
CONTROLE DA INTERNET: R$ 1.900.000.000,00


Um número, R$ 1.900.000.000,00 anuais, mais ou menos isso, 1,9 bi de reais, pode ser a chave que decifra o projeto de controle de acesso à Internet inventado pelo Eduardo Azeredo, aquele senador de não muito bem explicadas relações com a boa vida mensaleira. Para muitos pode ser que isto não passe de pura especulação, e não deixa de ser. Mas comece-se perguntando: a quem interessa a esdrúxula iniciativa? Aos provedores de acesso? Aos provedores de conteúdo? Não, não interessa a eles... interessa aos bancos. O "inocente" projeto, ao exigir a identificação do internauta de fato acaba por abrir a porta para a venda da cerificação digital. E a certificação digital é um negócio começado pelo Serasa, que é dos bancos e para os bancos, a venda de E-CPF’s a partir de “módicos” R$ 100,00 anuais. É nela, na
comercialização dos E-CPF’s que pode desembocar essa
“inocente” e nova bem urdida tessitura congressista de “defesa” dos interesses dos internautas, livrando o investimento e a responsabilidade dos bancos na hora de proteger o consumidor dos crimes cibernéticos. De lambuja fazendo imaginar generosas quireras de patrocínio para campanhas políticas. A conta como sempre, acabará sendo nossa. E tudo segundo o “espírito da lei”.

É claro que, em chegando à certificação, poderemos ser chamados a colaborar para renovar a vida dos cartórios. Cada internauta terá que provar que está vivo, apresentar documentos com firmas reconhecidas, cópias autenticadas, essas coisas inúteis, velhas e tão falsas como quem imagina pedi-las ainda - Certidão de Nascimento, Certidão de Estado Civil, Atestado de Residência, Atestado de Bons Antecedentes, Ficha Corrida Policial, Atestado de Saúde Física e Mental, CPF, RG, talvez um Diploma de Navegador da WEB (um pouco de corporativismo não vai mal). Ninguém falou nisso, mas vai que um dos 500 companheiros do Eduardo de repente se imbua de defensor de uma internet segura, legal e, pior, organizadinha! Afinal, podendo complicar, para que simplificar (a nossa vida, lógico).

O pai do projeto, Eduardo Azeredo, foi tentar explicar esse seu

Frankenstein numa entrevista ao UOL, ontem. Não disse nada,
como é o hábito de quem se acha autoridade, e deixou a
impressão de que inexistem argumentos reais e verdadeiros para a defesa da iniciativa. Um deputado, Miro Teixeira, também em entrevista ao UOL, tentando demonstrar domínio da matéria e aparentando certo bom senso desmontou o monstrengo, depois de uma aula de direito – falou em direito substantivo, direito consuetudinário, distinção dos códigos Penal e Processual Penal. Graças, Deus! Um inventor a menos, por ora. Torçamos para que prevaleça o bom senso ou ligeirinho estaremos vivendo o arremedo de um capítulo do “1984” de George Orwell.

Importa ficar alerta. Como é notório, o perigo mora em Brasília, de um e de outro lado da praça.



domingo, novembro 05, 2006

Pego a vontade blogueira meio reprimida e tento me encontrar neste espaço. Um processo de construção aparentemente complicado que fica ainda mais quando um amigo do peito, um irmão, sabendo da ousadia me diz: “faz um pra mim”. Como se fosse bolo ou sanduíche, talvez seja mesmo, apenas que a receita, sendo pessoal, não serve pra outro. Em servindo, algo não vai dar certo não, ou seria do manual da D. Benta.

Volto ao blog e vou alertando que é “distilaria” sim, a Santa Flora é muito anterior a “destilaria”, como é certo, ela vem lá do fim dos anos 20 ou comecinho dos 30, não sei bem,
integrava um “conglomerado empresarial” composto por mais outras quatro
“distilarias” plantadas “estrategicamente” a partir de facilidades ao acesso à matéria-prima: batata, milho, cana, o que pudesse virar álcool, álcool para
diversos usos e exportável – já acontecia!

Da Santa Flora não me sobrou mais do que esse “retrato” aí; de uma outra do “grupo”, em Guaíba, que resistiu até que os anos 50 entrassem, ficou na memória o odor da fermentação, mamoneiras – aquelas que dos frutos que deliciam o governador (Requião, do PR) - ocupando o terreno de uma construção vazia, uma balança e seus muitos pesos, nunca vi viva alma por ali, até porque talvez esse fosse não mais do que um passeio dominical e raro.

Nada me explica também a razão de ser Santa Flora, afora o fato desta ser uma capela que virou nome de rua (ou o contrário?) no bairro da Cavalhada, em POA. Coisas do seu batismo e vontades de um empreendedor meio fora de época apostando num futuro difícil de se compreender naqueles tempos.