segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Um segundo é o tempo


Diz o Pedro que frente ao touro ele tem apenas um segundo para tomar decisões. A principal: atrair a atenção do bicho, quase 800 kg, em tempo de salvar o peão e salvar-se. Um segundo só para descobrir o momento em que o animal investirá para pegá-lo. A piscadela de olhos do touro é o sinal vai lhe dizer esse momento, o tempo para jogar-se ao chão, bem ao meio das patas dianteiras do animal, para safar-se. Conta com a sorte e a certeza de que o touro nunca desvia para os lados. Confio na história que ele me conta – nem sei se queria ouvi-la, mas ela foi a resposta a uma pergunta que rendeu trela para uma prosa diferente. Um papo de palhaço de rodeio, que é o que Pedro faz a maior parte da vida, e eu nunca ouvira antes, igual ou parecido.

Esse Pedro palhaço de rodeio, me surgiu pela frente como garçom, numa manhã de carnaval, num quiosque à beira-mar, em Guaratuba. Baixo, cafuzo, ligeiro e esperto. Conversador. Pedro manda chuva, manda sol, manda pedido, manda ligeiro, como se apresentou. Só podia, me passou pela cabeça, ser nordestino. Saiu de Sousa (Vale dos Dinossauros), sertão da Paraíba. Catou seus 8 irmãos, a mãe, tocou para o sul. Aportou em São José dos Campos, São Paulo, de onde parte para suas aventuras e venturas.

Sujeito apressado, tomou o tempo nas mãos logo aproveitando o pouco tempo que passa em São José dos Campos para fazer uma filha. O que fez em 30 segundos, me garantiu o apressado. Trinta segundos para ir “aos finalmente” com resultados... Cismo que Pedro está sempre com o touro na cabeça, um segundo pela piscada dele... É contra o tempo, por exemplo, que ele corre pela areia da praia servindo as mesas que atende.

Palhaço de rodeio, garçom, em algum lugar se transmudou em cabeleireiro, “de salão”, explica, diplomado... Em Fortaleza é locutor de horas vagas, tem até programa por lá. Me garantiu que fez a 8ª série, duvido mas não posso duvidar... Imaginei continuar o papo, mas Pedro não suportou encarar a quinta-feira de praia vazia. Abortara o plano de ficar até o final da semana. Sua quarta-feira de cinzas rendera só R$ 40,00, me contaram. A piscada de olhos do touro na cabeça, aquele segundo de adrenalina era sua hora de voltar atrás da fortuna prometida pelos rodeios. Como me dissera, tendo a sorte de se integrar a uma boa equipe de peões, pode tirar até R$ 500,00 por dia. A praia fica para o próximo ano.