Diz o Pedro que frente
ao touro ele tem apenas um segundo para tomar decisões. A principal:
atrair a atenção do bicho, quase 800 kg, em tempo de salvar o peão
e salvar-se. Um segundo só para descobrir o momento em que o animal
investirá para pegá-lo. A piscadela de olhos do touro é o sinal
vai lhe dizer esse momento, o tempo para jogar-se ao chão, bem ao
meio das patas dianteiras do animal, para safar-se. Conta com a sorte
e a certeza de que o touro nunca desvia para os lados. Confio na
história que ele me conta – nem sei se queria ouvi-la, mas ela foi
a resposta a uma pergunta que rendeu trela para uma prosa diferente.
Um papo de palhaço de rodeio, que é o que Pedro faz a maior parte
da vida, e eu nunca ouvira antes, igual ou parecido.
Esse Pedro palhaço de
rodeio, me surgiu pela frente como garçom, numa manhã de carnaval,
num quiosque à beira-mar, em Guaratuba. Baixo, cafuzo, ligeiro e
esperto. Conversador. Pedro manda chuva, manda sol, manda pedido,
manda ligeiro, como se apresentou. Só podia, me passou pela cabeça,
ser nordestino. Saiu de Sousa (Vale dos Dinossauros), sertão da
Paraíba. Catou seus 8 irmãos, a mãe, tocou para o sul. Aportou em
São José dos Campos, São Paulo, de onde parte para suas aventuras
e venturas.
Sujeito apressado,
tomou o tempo nas mãos logo aproveitando o pouco tempo que passa em
São José dos Campos para fazer uma filha. O que fez em 30
segundos, me garantiu o apressado. Trinta segundos para ir “aos
finalmente” com resultados... Cismo que Pedro está sempre com o
touro na cabeça, um segundo pela piscada dele... É contra o tempo,
por exemplo, que ele corre pela areia da praia servindo as mesas que
atende.
Palhaço de rodeio,
garçom, em algum lugar se transmudou em cabeleireiro, “de salão”,
explica, diplomado... Em Fortaleza é locutor de horas vagas, tem
até programa por lá. Me garantiu que fez a 8ª série, duvido mas
não posso duvidar... Imaginei continuar o papo, mas Pedro não
suportou encarar a quinta-feira de praia vazia. Abortara o plano de
ficar até o final da semana. Sua quarta-feira de cinzas rendera só
R$ 40,00, me contaram. A piscada de olhos do touro na cabeça, aquele
segundo de adrenalina era sua hora de voltar atrás da fortuna
prometida pelos rodeios. Como me dissera, tendo a sorte de se
integrar a uma boa equipe de peões, pode tirar até R$ 500,00 por
dia. A praia fica para o próximo ano.